Muitos tutores, ao decidirem ter um animal de estimação se deparam com uma enxurrada de informações sobre comprar ou adotar, qual a melhor raça de cachorro para o seu estilo de vida, qual a melhor ração, em qual pet shop levar para banhos, tem que vacinar, desverminar e assim por diante. E é atrás desse tipo de informação que eles usualmente correm atrás, porém muitas vezes esquecem de levar em conta um fator muito importante: SAÚDE e MANUTENÇÃO da saúde desse animal. Esse fator pode pesar muito no orçamento, em especial se você estiver decidido a ter uma fêmea.
Quando consigo ter a oportunidade de conversar com tutores antes de adquirirem o seu fiel companheiro, tento repassar algumas informações a esse respeito, principalmente questionando sobre qual o sexo do novo integrante da família. Fatores como comportamento e a tão falada castração sempre entram em pauta e ajudam os novos tutores a tomarem decisões mais conscientes. Como muitos deles tem preferência por adquirirem fêmeas conversas sobre o cio e gravidez psicológica se fazem necessárias.
Para a maioria dos veterinários, a castração é sempre indicada, antes do cão atingir a puberdade, ou seja, por volta dos 6 meses de idade. Vários benefícios advêm dessa opção como: menores riscos anestésicos, recuperação mais rápida no pós-operatório e a diminuição significativa das chances de problemas médicos relacionados a exposição hormonal (tumores de mama, tumores de ovário, tumores na próstata, infecções no útero entre outros).
A pseudociese ou gravidez psicológica é a manifestação de sinais clínicos e fisiológicos de gestação, pré parto, parto e pós-parto em cadelas não prenhes e não castradas. Essa alteração acontece principalmente devido as alterações hormonais (em especial o aumento de prolactina, associado a queda brusca de progesterona) que acontecem durante o cio e pós cio da cadela.
O quadro de gravidez psicológica acontece após a passagem do cio em fêmeas não castradas, após o uso de medicamentos controladores de cio (anticoncepcionais) ou quando a castração do animal logo imediatamente após o cio. Não existe predileção por raça, idade ou porte, podendo se manifestar já no primeiro cio da fêmea ou após diversos cios. A gravidez psicológica não está relacionada com fertilidade dos animais e sim com taxas hormonais ou a sensibilidade individual dos animais a ação desses hormônios.
Os sinais observados na fêmea com pseudociese aparecem cerca de 35 a 60 após o cio e são os mesmos manifestados por fêmeas próximas ao parto e no pós parto, ou seja, comportamento de fazer “ninho”, adoção de objeto inanimados como seus filhotes ou filhotes de outras fêmeas, com excesso de carinho, atenção, proteção e defesa desses “filhotes”, lambedura do abdômen, distensão mamária e produção de leite e alterações de comportamento como agressividade são as mais comuns. Pode aparecer também ganho de peso, anorexia, vômito, diarreia, aumento na ingestão de comida e água e aumento na frequência e volume de urina.
O diagnóstico é feito sempre por um médico veterinário, através das informações sobre comportamento, fase do ciclo estral (ciclo de cio), sinais clínicos e alterações fisiológicas apresentadas pelo animal.
A gravidez psicológica em grande maioria das vezes não necessita de tratamento, porém complicações vindas dela podem exigir atenção do tutor e veterinário. Entre as complicações mais comuns estão a mastite (inflamação e/ou infeção das glândulas mamárias), empedramento do leite, infecções no útero. O tratamento é realizado de acordo com a complicação apresentada.
As fêmeas que apresentam pseudociese já no primeiro cio, tendem a repetir o quadro sempre que completarem o seu ciclo estral, por esse motivo a indicação da castração entra como importante recomendação. Já as fêmeas adultas que passaram por outros cios para então apresentarem a gravidez psicológica deve-se conversar com o seu veterinário e avaliar o caso.
Sendo um problema cada vez mais frequente na clínica médica veterinária, a gravidez psicológica ou pseudociese deve ser levada em consideração, pois pode levar a gastos inesperados com cirurgias e tratamentos por parte do tutor.
Roberta Farias Veiga
Médica Veterinária
Pós graduada em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais
Professora no curso de Medicina Veterinária na Faculdade Anhanguera